sábado, 21 de novembro de 2009

Verborragia

Ao candidatar-se às vagas de vendedor e promotor de vendas, o Ataíde já entrou de sola. Dirigindo-se ao entrevistador, lascou a pergunta:
“Qual será minha função na “promotoria?”
Para sua própria surpresa, foi selecionado para promotor. No momento de remeter a documentação para a regional da empresa, por ironia do destino, foram trocados os envelopes e ele e outro rapaz, candidato a vendedor , foram admitidos com as funções trocadas. O responsável pelo equívoco, temendo prejudicar-se, calou-se. E assim o Ataíde tornou-se vendedor, completamente despreparado para o cargo.
Tendo estudado pouco e não sendo dado a leituras, ficava maravilhado nas reuniões de treinamento de vendas com a eloqüência exibida pelos palestrantes. Quando ouvia alguma palavra que lhe parecia bonita anotava-a sem, muitas vezes, entender-lhe o significado.
De uma feita, na sala de espera de uma organização, enquanto os demais vendedores queixavam-se de seus superiores, Ataíde derretia-se em elogios ao seu gerente. Exaltava sua fluência verbal, sua cultura geral.
“Seu Schultz é muito inteligente. O homem conhece qualquer assunto. E além disso é troglodita. Fala inglês e alemão!” Os colegas torciam-se de rir, percebendo que ele queria dizer poliglota.
Numa reunião, ao ser indagado dos motivos da queda das vendas de uma determinada praça, expôs seu pressentimento de uma provável falência de seu maior cliente naquela cidade:
“Essa organização está devendo para muitos fornecedores. Está a beira de falecimento.” Durante a visita de um gerente de marketing, ao tomar conhecimento de que este colecionava selos, encontrou a oportunidade de exibir sua suposta erudição:
“É a primeira vez que converso com alguém sifilítico seu Martins!”
Ao que o supervisor, horrorizado, corrigiu furioso:
“FILATÉLICO, Ataíde! FILATÉLICO!!!
Numa roda de amigos, durante o cafezinho, comentava-se a qualidade de um novo produto instantâneo, recém lançado no mercado e o Ataíde saiu-se com esta:
“Eu só gosto de produtos naturais. Lá em casa não usamos nenhum produto expontâneo!”
Em visita a seu setor, o gerente convidou-o a jantar no hotel. Como entrada, foi servido um carpaccio (iguaria feita de finas películas de carne crua, temperada e saboreada com molhos diversos e torradas). Ataíde registrou. Na primeira reunião, em Porto Alegre, diante dos colegas admirados, dirigiu-se ao garçom em alta voz, certificando-se que todos o ouviam:
“Por favor, tem gaspacho?” (sopa de pão, com vários temperos: azeite, vinagre, alho, cebola, tomate, etc).
Só quando o serviram é que percebeu o engano, para divertimento dos amigos.
Em outras ocasiões, demonstrava desconhecer que uma mesma palavra pode ter significado diferente. No início de uma reunião, o gerente saudou-o informalmente:
“E daí Ataíde? Como está a zona?” referindo-se, obviamente, ao setor de sua responsabilidade. A resposta fez todos explodirem na gargalhada:
“Não tenho ido lá seu Schultz, mas dizem que chegaram umas pinguanchas novas de Santa Catarina que são uma beleza!”
Suas gafes já haviam ganhado renome fora de nossas fronteiras. O próprio gerente divertia-se quando as narrava em São Paulo, nas reuniões da Matriz. Graças a essa complacência o Ataíde foi ficando na empresa. Até que um dia, ao despedir-se após mais uma reunião, cometeu o deslize que encerrou sua carreira de vendedor.
Saindo do hotel, com as malas na mão, dirigiu-se ao Sr. Schultz. Este, diante dos visitantes da Matriz, provocou-o esperando uma resposta inusitada e divertida.
“Até breve Ataíde, meu insigne viajante!”
E a resposta veio, em alto e bom tom:
“Até breve, “seu” Schultz, meu insigne ficante!”
E o mercado de trabalho perdeu um vendedor.








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